domingo, 16 de setembro de 2007

PEQUENOS TAKES DE UM MUNDO CAÓTICO



Pequenos Takes de um Mundo Caótico


Meninos de rua esmolando
e fugindo dos cassetetes dos guardas aflitos
que reagem de forma bruta, visceral,
à impaciência da sociedade que cobra
uma atitude voraz, rápida, efetiva
das autoridades apáticas.


Taxistas irresponsáveis
que burlam as regras,
infringem sinais de trânsito a cada cem metros,
adulteram velocímetros para explorar passageiros,
todos os meios possíveis para conseguir
usurpar um pouco mais,
faturar um tostão a mais.


A imprensa sensacionalista
promove cidadãos medíocres
como se fossem estrelas de cinema,
enquanto o povo trabalhador
visto somente nas páginas policiais,
lua diariamente por um pôr-do-sol digno,
mais justo e sem tantos preconceitos.


Pequenos retratos,
takes diários,
memórias instantâneas,
uma miscelânea do que acontece
dia e noite pelas ruas,
perturbando, instigando, forçando
o ser humano a agir, pensar
e, finalmente, se indignar
mediante tanta desolação.


O autor dessa tentativa frustrada
e descabida de narrativa poética
volta e meia se pergunta atônito
quando e onde tudo isso irá parar.
Até que ponto permitiremos mais
tanto desconforto, tanto desentrosamento,
tanta falta de habilidade
para enfrentar uma solução
que estanque de uma vez por todas
esse desprazer, essa inércia,
essa falta de ação
que hipnotizou o povo nos últimos anos?


Os políticos, falsos governantes,
escondem-se atrás de bordões do tipo
“estamos trabalhando”,
os menos afortunados, acuados
ante toda a violência e incompreensão,
sofrem, praguejam, choram
e nada podem fazer de imediato
para confortar o inconsolável coração
que não pára de bater descompassado,
vítima de tanta fúria e opressão.


Na TV, no rádio e nos outros meios de comunicação
os BBBs, as divas artificiais, o hip-hop
“programam” automaticamente essa sociedade corrompida
com suas músicas monossilábicas,
suas grades de transmissão ditas populares
e seus artistas carregados de maquiagem.
Por outro lado, os não-artistas,
aqueles que não nasceram com o suposto “dom”
capazes de fazê-los brilhar na telinha,
contentam-se com os esfregões,
as vassouras, os banheiros sujos
e os subempregos mal remunerados.


Tudo isso e muito mais
acontece automaticamente:
24 horas por dia,
30 dias por mês,
365 dias por ano,
há décadas, séculos, milênios
e nada é feito para contornar
esse automatismo que incomoda (que irrita)
e facilita somente a vida daqueles que elaboraram
esse projeto chinfrim chamado civilização.


O que fazer?
Como fazer?
Quando fazer?
Por que fazer?
Com quem fazer?
Perguntas que se repetem,
se acumulam, se arrastam,
sôfregas, carentes de uma força de vontade
da parte de um único ser humano que seja.
basta um!
Que tome as rédeas da situação
e nos ofereça uma nova proposta
para esse limbo social o qual habitamos
e faça essa máquina fotográfica cruel
que é o sistema em que estamos imersos
parar de exibir essas tomadas degradantes,
cheias de ódio incontrolável, rancor
e solidão








domingo, 9 de setembro de 2007

METRÓPOLE



Metrópole


Urbes congestionadas
Motoristas estressados
Pensamentos eclipsados de dor:
este sou eu
O conjunto destas alucinações que me rodeiam.


Quando saio de casa mais cedo
enfrento as mazelas da multidão
escoradas por veículos envenenados
cujos mártires na direção
nada mais são
do que o espelho de minhas próprias atitudes


Buzinas
Urros incompreensíveis
Prostituição nas calçadas
A música que reverbera dos quiosques
Este é o som da metrópole
que mais parece um galope
do que uma canção


E no meio de toda esta gente
cansada de sofrer,
de temer,
de correr,
do tumulto que as ruas guardam
do rugido que os transeuntes exaltam
sobrevive o cidadão intimidado


O que será do amanhã,
se nada vejo no ontem e
se não me lembro do que passou
Porca memória
que me foge aos dedos
sem nem ao menos avisar
sequer alertar
para aquilo que sou:
um mísero mortal
preso a metrópole.


Culpado?
Inocente?
Ambos?
Não sei mais o que faço de minha vida
Não sei o que sobra de racional pra contar


O que me resta
é este único desatino chamado sobrevivência
que me empurra pra frente
e me faz encarar as ruas,
as vielas,
os becos,
enfim,
o que a pólis me der